terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

Tá Tranquilo? Tá Favorável?

Ta tranquilo? Ta favorável?
Se liga no moleque sem merenda ali no pátio
Políticos corruptos nos fazendo de otários
Roubando a sobrevivência de uma maioria miserável
Os jornais lhe impõe qual deve ser o seu lado
Passando um pano pra metade dos safados
Enquanto no comercial do fantástico
Rola a propaganda milionária da samarco
Pra natureza, mariana nem um centavo

Ta tranquilo? Ta favorável?
Hit do carnaval foi folião metralhado
Trá-trá-trá
Nos falante o cala a boca dos favelados
Lixo sonoro que sequela e mantém o rebolado
Mais sofrência menos consciência
Pra mente dos acomodados

Ta tranquilo? Ta favorável?
Eles na mansão e nóis no barraco
Correndo perigo na mão dos soldados
Sucumbindo em meio a ratos e mosquitos listrados

Jogados no descaso
Pelas margens ignorados
Fora dos padrões, rejeitados
Maltrapilhos abandonados
Representados por uma corja de engravatados

Ta tranquilo? Ta favorável?
Meu povo segue escravizado
Refém do consumo imediato
Que te mantem algemado
Dentro do capitalismo desenfreado
Achando que ta tranquilo, favorável
Sofrendo sem comida no prato
Pagando de pá com carro financiado
Passando fome de tênis importado

Ta tranquilo? Ta favorável?
Antes era pão e circo, agora é só circo montado
Sendo nóis os próprios palhaços
Rindo de nós mesmo, sofredores engraçados
O pão, a merenda, foi pro saco
Virou dinheiro sujo no bolso do estado

Ta tranquilo, favorável
Pra quem quer um povo alienado
Que só repete refrão fraco
Enquanto se afunda no buraco

Ta tranquilo? Ta favorável?
Olha o moleque sem merenda ali no pátio

-daLua

#LiteraturaMarginal

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

Paraíso

Você já parou para pensar, né?
A vida num paraíso como é:
Casinha a beira do rio, agua limpa, fruta no pé...

Dormindo ao som da correnteza
Acordando com os sons da natureza
Acordado pra vida, repleto de certezas.

Mas na busca do querer sempre mais
Amaldiçoado serás!

Dinheiro, o fruto proibido!

Viverás à beira de um córrego fedido
À sombra de urubus famintos
Sem rosas só espinhos
Dos arames farpados
De um pedaço de concreto loteado
Acordando com tiros disparados
E dormindo sob efeito de remédios controlados

Onde se semeia no árido
Nem sempre brota o aprendizado

Do mais miserável ao mais notável homem
Sobreviventes em meio a fome
Não é questão de sorte

O início do processo de extinção
É irmão matando irmão
Em seguida a próxima etapa:
novas doenças e alimentação fraca

E enquanto agente se degrada
Verás que batido ninguém passa
Todos sofrem com os efeitos da causa

No gatilho: um toque
Os opostos entram em choque
Controle da população pobre
Através da violencia, moeda de troca
Dizimando a raça numa guerra onde não há tropas
Apenas uma maioria em malocas
No que um dia já foi o paraíso
Herdando somente o prejuízo
De quem transformou paraíso em inferno
Só para não ter pobre por perto:

'Fiquem com os rios, os morros, os vales...
Fiquem à vontade!
O plano é nosso, o centro da cidade
Recolham os lixos, construam seus lares'

E a maldição se concreta:
O paraíso já era,
Virou favela!
O córrego serpenteia o morro margeando as vielas
A natureza já não desperta...
O chiado do esgoto já faz parte dela

Periferia vai muito alem da geografia
Favela tranquila é coisa de novela
Falo por aqueles de vazias panelas
De onde choram os poetas...

Arma, caneta ou pedra?
Você tem essas opções, vê se não ramela:
Escrever a própria história
Ou engolir a do cidade alerta?

#LiteraturaMarginal

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

Bola de Gude

Fazem com o que se escute
Somente o que denigre a juventude
Criminalizam a atitude
Desvirtuando a virtude
Torcendo pra que nada mude

Idiotização que ilude
E a real cada vez mais rude:
O ódio em plenitude

Perdido no meio dessa magnitude
Mascando o chiclete sem querer que ele grude
Na esperança de alguem que o ajude
Sofrendo por sua própria quietude

A omissão é faca de dois gumes
Nos falante e na tv é só estrume
Em apologia ao álcool e ao desrespeito se resume
E você vai seguindo o cardume
Tampando os sentidos pro chorume
E é isso que eles querem, que você se acostume
E um jeito arrume
Nessa crise moral em que ninguém se assume

De longe sente-se o perfume:
Sequelado é o que se presume
Mas a torcida é que pra frente, rume
O mundo que não passa de uma bola de gude

-daLua

#LiteraturaMarginal