sábado, 28 de maio de 2016

Um novo mundo

É nessas horas
Em que o mal mostra a sua mais perversa cara e nos assola
É que me sinto como um anjo...

Não puro de bondade
Afinal, não sou nenhum santo
Mas com a missão de formar humanos de verdade

Não que nossos pais sejam culpados
É que eles tinham outras necessidades:
Livrar-se da fome, das dificuldades...
Buscar um conforto para nós
Que eles não tiveram na nossa idade

Só que nisso, os valores morais ficaram de lado
Empurrados pela barriga ideais ultrapassados
Machismo, preconceitos que por nós foram herdados
E taí o resultado:
Violências que a cada dia nos deixam mais chocados
Seres perversos caminhando ao nosso lado

É nessas horas em que a alma chora
Que a depressão bate e a vontade de viver vai embora...
Porque é foda viver com todo esse mal rondando lá fora

O apocalipse está acontecendo
A humanidade se perdendo
As pessoas sofrendo

O ódio e a maldade são os meteoros de nossa extinção
O mundo já acabou, já era...
Da culpa, todos nós temos uma parcela

Mas ao ver aos meus indignados
Jovens estudantes engajados
Mulheres de punhos cerrados
Pais jovens preocupados
Crianças crescendo com novas visões, novos aprendizados
Me sinto esperançado...

Vislumbro um novo mundo sendo criado
Com novos conceitos e novos formatos

A nossa geração está condenada
Mas não podemos assistir o fim e não fazer nada
É nosso dever como adultos
Preparar o futuro
Daqueles que salvarão o mundo

Filhos de LGBT, das feministas,
Dos estudantes secundaristas
De uma nova geração de artistas,
Dos ativistas...
Filhos das lutas, de uma nova classe política

Somos nós, pais,
O instrumento de criação de um novo mundo
Bem mais fácil de se conviver
Entre diferenças e sem luta pelo poder
A não ser pelo poder
De viver sem sofrer

E que 33 volte a lembrar só uma idade
E não a uma terrível crueldade

quarta-feira, 18 de maio de 2016

No contrafluxo

Não é normal e nem quero achar que é
Ver espécie da mesma raça
Ignorados,
jogados
espalhados
na praça da sé

Enquanto uns acham graça
É só desgraça
Fome e frio que passa
Você olha só de relance
e com receio vira o rosto e disfarça
No fundo cê num guenta que são farinhas da mesma massa

Então não é...
e nem quero que seja
Normal uns passarem fome
e outros torrando tudo em droga e cerveja

Veja!
Perceba!
Abra sua cabeça!
Veja alem e reconheça!

Olhe ao seu redor...
Você não vê toda essa indiferença?
Achar que é normal criança brincar com boneca sem cabeça?

Não é normal, eu não acho...
Ver pai de familia contando moedinha na fila do supermercado
E muita coisa vai ter que deixar, não vai levar
A mistura da janta vai faltar
Seus filhos vão chorar
A barriga vai roncar
Mas ate com a sacolinha o mercado vai lucrar

Aí não dá!
O povo degradado
sofrendo igual diabo
no busão lotado
recebendo um misero salário
pra só levar esculacho
De gambé forgado
E de patrão mal educado
Que chega atrasado mesmo de carro importado
Tá tudo errado!

E de tão errado passou a ser o certo
Aceitamos nossa degradação em troca de dinheiro e crédito
A pátria educadora sem cultura parece piada, mas é sério

De tanto contarem a mentira
De que desigualdade é normal
A empatia deixou de ser real
E o bem coletivo se transformou em status individual

Então como pode ser normal?
Me explica ai, na moral
O descaso com o seu igual?

Não, não, não, não...

Não me leve a mal
Não quero ser normal
Me chame do que você quiser:

Vagabundo, marginal
Diferente, doente mental

Enquanto eu tiver no contra-fluxo
Sei que ainda sou racional

E não só mais um animal
Que manipulado segue disseminando o mal

quinta-feira, 5 de maio de 2016

Janelas da Condução

Janelas da Condução
No deslocamento entre espaço e tempo
Uma viagem acontece por dentro
Deixando pra trás a realidade do momento

O concreto ganha vida e sai fugido
Levando embora o feio e o bonito

Grafites, pixos, cartazes...
Muros, arbustos, árvores...
Pessoas andando pra um lado sentido ao oposto, como são capazes?

Postes, ruas, calçadas...
O lixo, o luxo, as pessoas nas ruas jogadas...

As águas foram canalizadas
Viraram leitos de asfalto em ruas esburacadas...

Casas, lojas, prédios, fábricas
O mundo passa diante de janelas embaçadas, sujas e riscadas

Passageiro da vida num safari urbano
Telespectador do caos cotidiano
Cabeça a milhão com os neurônios fritando

Tentando seguir o plano de se manter em pé por mais alguns anos

Passa lotérica, mercado, banco...
No ponto são vários esperando

Pela janela, o mundo prá trás vai ficando diante de cada passageiro
Que num relance ligeiro
Se reconhece ali no meio

Parado,
inerte,
de saco cheio

Enquanto olhava pra fora
Não percebeu que ali estava o tempo inteiro
seu reflexo na janela como num espelho

Observando, se colocou como parte
E aprendeu que se nem tudo o que vê é arte
é porque oferece muito pouco, nem a metade do reflexo que gostaria de sentir e ver de verdade:

Uma linda paisagem
Sem poluição, sem maldade

E logo olhou para dentro do próprio ser
Vendo alem pode perceber que na verdade, o mundo não voltava

Parado estava era ele e o mundo que avançava
Era só uma questão de equilíbrio, percepção:

Pela janela do busão
Tudo parecia correr para trás
Mas agora ele sabia qual era a sua missão:

Oferecer mais se quiser ter troco
A vida agora passou a valer mais do que ouro
Suas ações refletem no ambiente do outro

Agora, aprendera a lição
nunca mais viajou em vão
Pelas janelas da condução...