domingo, 31 de maio de 2015

Escada


Hoje eu caí da escada
Mas desta vez foi subindo
Já tombei tanto nesta estrada
Que só me via caindo

Foi ai então que vi
Que escada serve pra descer
Mas também pra subir
E que subindo também é possível pra cair

Então fica ligeiro
Se você ta subindo parceiro
Porque você pode tropeçar
No degrau do orgulho
E no poço sem fundo 
Se afundar, se machucar

Humildade prevalece
Porque a escada sobe, 
Mas também desce.

Um dia você ta ali, bonitão com as gostosa
Bancando puteiro e bebida cara pros parceiro
No outro tudo se acaba, conta no vermelho
E todos eles lhe viram as costas

Hoje só bati com o dedão do pé
Mas fica esperto jão
A vida você ta ligado como é
Quanto mais alta a ilusão
Mais duro e profundo é o chão

E o que vai sobrar?
Quem vai te socorrer?
Onde há força pra recomeçar?
Será que você vai aprender?

Humildade prevalece
Porque a escada sobe, 
Mas também desce.

sábado, 30 de maio de 2015

Promessas



Não me venha com essas
Todo mundo faz, fez ou ainda vai fazer
Não importa pra quem ou porque
Tudo termina ou começa
Na base da promessa

Um vicio que acaba,
Um namoro que se inicia
Um emprego que se acha
Um novo rumo pra vida

Pode ser religiosa
Pode ser amorosa
Pode ser estilosa
Pode ser mentirosa

Subir escada de joelho
Deixar de ser ciumenta
Cortar o cabelo
Subir na vida de forma fraudulenta

Tem também daquelas
De quem aumenta, mente e inventa
Que vai na tv, na rua e faz promessa
falando que o povo representa
que veste a camisa, mas na verdade só o voto interessa

E o povo cola adesivo, balança bandeira
briga da cor azul com a vermelha
Enquanto as duas brincam com a vida alheia
Matando a nação na base da caneta

Tem quem faz promessas vazias
Da boca pra fora
Tem quem diz que promessa é divida
Tem quem cumpre na hora
Mas tem também quem só adia

E eu só prometo
Não prometer
Pois não me comprometo
Com o que não posso fazer
Por enquanto, só escrevo o que vejo 
e que da vontade e o que sei escrever

sexta-feira, 29 de maio de 2015

Desavenças

Desculpa ai doutor a revolta
É só o seu pesadelo batendo em sua porta
Ta assustado tiozão?
Se preocupa não!
É só o que você oferece vindo de volta

Olha ao seu redor
Menina estuprada no banheiro da escola
Menino vendendo pó
Pro filho do doutor cheirar
enquanto o mendigo vive de esmola
Que você finge não ver e se nega a dar
Com a desculpa de que se der ele vai pro bar gastar

Seu whisky 12 anos vale a pena comprar
Mas morador de rua nem um corote pode tomar?
'Se me pedir um lanche eu pago'
Então quero ver os dois comerem do mesmo prato...

No Morumbi o lixo é ensacado
E os muro alto
Na favela o lixo é espalhado pelos ratos
E é barraco com barraco

Morumbi, lugar de vento frio
Como o semblante
de cada morador
Que no game cresce dando tiro, matador

Na favela o vento ajudou
O pipa voou
e o moleque por um instante
não viu a dor
agora é voador

Um dos únicos momentos
Senhor de seus movimentos
Sente-se no controle, mesmo cortando os dedo
Sua ação, o futuro em suas mãos
Agora é ali, brincando sem medo
Ousado e com linha no latão
Vai atrás do grandão

Manda a busca na tristeza,
Faz a volta, pega linha e rabiola
Descarrega de amor
Dois toquinho, já era 'réééééélôôôôôôôô'
E a tristeza pairando no ar,
vá se embora
Desbica de cabeça sonhador
E vai buscar agora a alegria
De um menino vencedor
Com o sangue na linha que a batalha manchou

Pais rico é pais sem pobreza
Então me avisa quando isso for certeza
E quando na pátria educadora
Menor tiver com caneta e não de metralhadora

Acreditar num mundo sem diferença
Talvez ainda seja pura inocência
Mas enquanto houver essa desavença
Vou devolvendo o ódio em cada sentença
Nem que eu morra sem ver o fim dessa indecência....

quinta-feira, 28 de maio de 2015

Não basta sonhar, tem que semear...


O bicho homem é movido a atender expectativas
Sonhos, desejos, estimativas
Se constrói toda uma vida
Esperando que a mesma seja reconhecida

Pensa-se mais nos outros do que em si
Se auto sabotam pra ter o faz me rir
E se esquece da regra essencial
Que todo o ser vivo
Pra ser natural, 
É necessário o cultivo

Pouco se planta
muita ganância
Poucos vão a luta
Mas todos querem um pedaço da fruta

E um dia caminhando só
Me deparo com um tal Paulo Eiró
um poeta que com apenas dois versos
Me fez sentir um pouco mais certo
Nesse mundo cão sem nexo
Mas mesmo assim, ainda poético.

'O homem sonha monumentos
E só ruínas semeia
Para pousada dos ventos;
Como os palácios de areia
Dos seus brincos infantis,
Mal divisa o que apetece,
Que tudo se desvanece…
Feliz quem amou! Feliz!'


Santo Amaro a tarde
milhões de passagem
quantos repararam na imagem?
E destes, quantos compreenderam a mensagem?

Poeta das antigas,
comprovando o que eu li um dia,
palavras não morrem, tem que ser escritas
nem que ao menos por um, seja lida
e compreendida
Assim segue a vida...

quarta-feira, 27 de maio de 2015

Começa com você...

Hey, sangue!
É...você mesmo...
Não importa por onde você ande
O barato começa deste jeito

Começa com você
Furando fila,
Não dando lugar pras tia no metrô
Andando com seu carrão no corredor
Embolsando o troco errado
E ficando calado

Começa com você
Quando você vê alguem perder
Alguma coisa e você não devolver
'Ahhh, achado não é roubado!'
Certo? Errado!

Começa com você
Parando na vaga de idoso, gestante
Fechando os outros com seu possante
Ou parando na faixa de pedestre ou na rampa pra cadeirante

Começa com você
Sempre querendo levar vantagem
Na malandragem, na pilantragem
Roubar marmita do irmão no trampo é mó viagem

Começa com você
E seu jeitinho brasileiro
Motivo de orgulho exportado pro estrangeiro
Corrupção o dia inteiro,
No DNA do brasileiro

Começa com você
Em casa, no trampo, na rua
Na escola, na urna

Rouba lanche em familia
Roubam em Brasília
Nação da hipocrisia
Reclamar de politico é mó fita
Se a corrupção te acompanha no dia a dia

terça-feira, 26 de maio de 2015

Emergência


Atenção, socorro, é emergência!
Roubaram o dinheiro do povo
E a saúde publica esta em caso de urgência
Enquanto há fartura no palácio do morumbi
A saúde agoniza na UTI

E quem paga é quem mais precisa
Quem cedo madruga, pega senha e aguarda na fila
Por um atendimento que nem sempre ameniza
A dor, o sofrimento
A morte, o lamento

Negligencia médica,
Atendimento abaixo da média
Funcionário de mau humor
Maca no corredor
Cenas de horror
Quem protagoniza: o pobre sofredor

Enquanto rico se trata no Einstein
Remédio pra tia no posto não tem
Governador aumenta o próprio salário
e esquece do SUS
Enquanto isso o povo sai da casa do caralho
Pra tomar em seus...

Mas também tem o outro lado,
O lado dos funcionários
Que sem culpa merecem ser valorizados
Minha filha foi salva e hoje eu vivo aliviado

Não agradeço ao estado
Mas sou eterno grato
Pelos seus funcionários
Que reverteram o pior dos quadros
E merecem serem mais recompensados.


Uma pena ter que ser assim,
Reivindicar saúde e educação
Não é normal pra mim
Mas em terra de corrupção,
Quem tem um leito é rei.
E por omissão de socorro 
o governo deveria responder
por aqueles que irão morrer
sem condições dos médicos atender.

segunda-feira, 25 de maio de 2015

Religião

















Ergam as mãos irmãos
Joelhos no chão
Ta foda viver no mundão
É muita gente pra pouco pão
Oremos pelo milagre da multiplicação
Enquanto que em Brasília multiplicam o bilhão
Através do petrólão

A igreja dominando a programação
No radio, na televisão
Na rua e no centrão
Convertendo o povo do salario minimo
Em troca dos 10% do dizimo
Dizendo que Ele ta vindo...

Mas Ele está em nós,
Sempre esteve, 
Nos que nunca damos ouvidos a sua voz
E esquecemos as vezes
Que somos parte dele

Aquele ali na frente,
o que lhe faz diferente
manda sentar, mandar levantar,
manda orar, manda gritar
representa a divindade mais que eu?
Porque? Quem foi que escreveu?

Religião é segregação
E enquanto irmão lutar contra irmão
A parte que nos unem se separa
Tenha fé no Deus que habita em você
e sinta o poder que você tem só e não repara
Fé não se mede, igreja não se compete
porque a igreja é a sua morada,
é a carne que lhe veste

Porque Ele habita em você
Através do livre arbítrio
Quando dermos conta da força que temos só
E pararmos com o atrito
Unidos, 
faremos um mundo melhor
Como um todo
e não como um bando de tolo

Quando todos entenderem
e estiverem em paz e amor consigo mesmo
será bem mais fácil conviver
só isso teremos para transmitir
e a paz em geral irá existir

Entre a fé e a razão
Com meu Deus guiando a visão
Levando a vida na batida do coração
Nome é só um nome,
'Eu sou Eu'
Sem sobrenome.

domingo, 24 de maio de 2015

Hereditariedade

De que adianta sermos racionais,
se somos moldados a pensar iguais?
A influencia começa com os pais,
depois vem a escola, jornais...
E logo você já não pensa mais,
faz o que faz 
porque ensinaram que é assim que faz,
então, tanto faz...

Dizemos pra nós mesmos
que somos os únicos a raciocinar
Mas será que somos mesmo?
Meu cachorro sabe quando vamos passear
só da guia eu pegar

Em rio que tem piranha, jacaré nada de costas
E pra não dar confusão,
cada macaco no seu galho,
porque de aperto ninguém gosta
e de zé Povinho também não

As regras de sobrevivência,
na natureza vem da vivencia
Nasceu, criou, tchau e bença!
E o mundo livre, perigoso e hostil
educa aqueles que supostamente não pensa

Já entre os pensantes, há diferença.
É desde cedo tentando mudar a essência
de quem nasce na inocência,
chocando suas crias até a adolescência.
Criados a base da pseudo-inteligência,
da educação com carência,
pra evitar no futuro a ingerência,
solta no mundo a demência

De um caráter recém formado,
pensamentos decorados,
argumentos passados,
por quem julga nunca estar errado

Música, time, religião
Partido, roupa, opinião
Tudo herdado,
não na base do aprendizado,
mas no conteúdo formatado e enlatado

E mais um ser humano acorrentado
nas tradições familiares,
moldadas por diversas variáveis
que na maioria das vezes não são agradáveis,
que acaba gerando a tal guerra de classes

Acredito na evolução do ser pelo ambiente.
Por isso me sinto diferente,
porque sei que isso é impossível praticamente.
Mas os pais tem que entender como era antigamente
e como é até hoje naturalmente

Filho é pro mundo
Não é para sempre
Pai cria,
o mundo ensina,
os filhos procria.
O mundo gira...

O pai e o filho morrem,
e sobra no final
pro bicho que não pensa comer o homem
e toda a sua moral

Que eu tenha a sabedoria
pra deixar crescer livre minha filha.
O foda é o que vem de fora, 
e vem pesado!
As vezes me pego nesse pecado,

Mas que Jah guie e a ilumine,
para que seja a sua vontade que brilhe,
e não a minha,
porque o mundo é seu, filha!

Sinceramente, 
o que temo é o ambiente.
Que ela evolua consciente
nessa terra de doente.

sábado, 23 de maio de 2015

Exílio

Exílio do meu Eu,
Que condenado foi onde nasceu
E quando cresceu
se perdeu
Foi sequestrado,
Torturado,
Acorrentado,
Adestrado,
Desafiado,
E a sociedade o prendeu

Na cela da própria matéria
Exilou-se dentro dela
O espirito preso no corpo que vaga pela terra

Estrangeiro no mundo sou
Não entendo e nem falo a lingua
Que me deixa a míngua
Que o homem criou

Nesse ambiente 
Que cobra da gente
Que deixemos de ser gente
Para ser agente
Escolhi ser reagente

Não ajo como de mim esperam
Não penso como querem
E vivo como indigente
Sem rumo, indiferente,
Preso eternamente

A anistia é oferecida em capsulas
Fornecida pela farmácia
São novas amarras, 
controladas
Em troca de migalhas

Para alguns a dor morreu
Mas sigo no exílio de meu próprio Eu.

Dia do abraço

Dia do abraço, do beijo, do sexo
E eu não vejo nexo
Nesse complexo
De ter que se lembrar
Ao menos um dia
Que somos amor, somos vida

Se há placa de abraço grátis na rua
É porque até o afeto já virou produto
Aproveite a oferta, ou apenas curta
Um gesto sem ternura
Que revela a solidão da carência que tortura
De quem acredita na mentira nua
De que o amor ainda perdura

Algo me parece errado
Se é necessário escolher uma data
Pro amor ser lembrado
Reflexo de quem não reflete
Que também virou produto
Assim como a roupa que veste

Beijos e abraços falsos
Tapinhas nas costas é negócio
Sexo só por fazer,
Porque na terra do ódio
Prazer é dinheiro na carteira ter

Então, sinceramente, peço desculpas
A verdade, eu sei que é dura
Mas hoje, somos todas putas
Se vendendo por dinheiro,
implícito que é pra não sentirmos tanta culpa.

sexta-feira, 22 de maio de 2015

Neurose

Neurose mano, muita neurose, 
não se calam algumas vozes 
e é só neurose, 
neurose mano. 

Tamo aqui a pampa, 
e nego falando ate as tampa. 
É tv, telefone, palpite, propaganda 
só estando aqui pra ver, 
ver vozes? 
É muita neurose...

Muito som que cega a escuridão 
do silencio irmão, 
quando o que se busca é só ficar tranquilão, 
em paz consigo mesmo né não? 

Mas não, é dor de cabeça com essas vozes, 
corta brisa, 
desinspira, 
não acaba a pilha, 
desacredita? 

Tenta se escutar por 10 segundos 
e ouvirá as vozes malditas
palavras feridas
de uma realidade que não é sua, foi distorcida

Neurooooooooose,
que gera necrose 
da massa cinzenta que explode
com tantas vozes
que tentam ditar o que se pode
o que não pode
se é rico
se é pobre
e no final, só te fode

Ah...mó neurose!

quinta-feira, 21 de maio de 2015

Decepção de um Homo Sapiens

Homem da caverna sou
Me chamam de homo sapiens
Neste tempo onde estou
Tudo por aqui mudou
Os rios que traziam vida
Viraram avenida
As cavernas sumiram
Viraram arvores gigantes de concreto e vidro
O colorido da natureza se perdeu
Ficou tudo cinza e a caça desapareceu

Esse povo estranho diz que de mim descendeu
Mas eu desconheço essas caras limpas como filhos meus

Uns até se parecem comigo
Mas também devem estar perdidos
Barbudos e sem abrigo

Nesta selva de pedra sem caverna
Sem bicho pra caçar e comer
Sem agua pra se banhar e beber
Como assim evoluíram?
Se tudo que eu precisava
e sobrava,
destruíram?

Acho que eles também não me reconhecem
Olham pra mim e logo se percebe
O olhar a se desviar e a rua atravessar
Como se vergonha sentissem do que os antecede
O que acontece?
Porque esquecem?

Paro, vejo, observo ao redor
E acho que na minha época era melhor
Tudo funcionava no simples ciclo natural de vida
Dava trabalho, mas a caça compensava
Com suor e briga,
sustentava minha familia

Agora é mais fácil é verdade
Trocam seu tempo por um papel
E o papel por agua, carne, caverna e obesidade

Mas não sei não, algo me preocupa
Tao se matando a toa
E já não tem mais tanta agua boa
O papel perde seu valor
E seu tempo dado
É desperdiçado
E por doar mais, se sente dor
e logo é descartado

Se evoluíram, eu não sei...
Ainda vejo a roda e o fogo
Sendo essencial e fui eu que inventei
Mas uma coisa falo pra você,
Sapiens eles deixaram de ser
Tenho vergonha de ver
O que minha raça virou

Matei tanto bicho na paulada
Pra vocês evoluírem da forma errada
e matarem uns aos outros na bala
Que saudade eu tenho dos meus tempos de caverna
A vida era sofrida, dura
mas era mais bela, só aventura
viver tinha um porque: ser, sobreviver
e não morrer para ter

Havia sentido em tudo 
e em todos que habitava a Terra
Hoje já era
só pensam em lucro
É só decepção
Chamam de evolução
O caminho da extinção

quarta-feira, 20 de maio de 2015

A máquina





















Quem vê de fora,
Vê melhor, já dizia a velha senhora
E do lado de fora estou agora
Observando de cima 
Como a maquina gira

São como círculos
Funcionando em ciclos,
Que vai, volta
E as vezes se encontram
E se chocam

Consigo ver cada engrenagem
E não acho,
Um espacinho sequer onde eu me encaixo,
Sem sacanagem,
Não há espaço

O padeiro que faz o pão
Pro dono da padaria vender pro peão
Que pega a condução,
Motorista e cobrador te levam pro trampo:
Um banco,
Da bom dia pro João, 
que tenta proteger o patrimônio do patrão
E dar a segurança suficiente
Pro dono da padaria que é cliente.

Ele deposita o dinheiro do pão
Na sua conta corrente
O banqueiro, fica contente 
Paga o peão e o João
E ambos vão na padoca gastar
pro dono da padaria pagar
quem fez o pão
e você continuar
a girar
sem sair do lugar

E nesse ciclo, poucos vão pra luta
Mas são eles que ficam contentes
O dinheiro circula, 
suja a mao dos inocentes,
Ilude achando que a eles pertencem,
Mas não passam de meros clientes.

E esse é o combustível da máquina:
A ilusão que não é nada mágica
Pura tática 
pra uns fazerem
O dinheiro dos outros renderem

Daqui eu vejo, tudo isso acontecer
Se você não vê,
Boa sorte pra você!
Se você vê,
tamo junto no rolê
Atrás da cura
no meio desta loucura!

terça-feira, 19 de maio de 2015

Periferia



Apresento a vocês, minoria
a maioria esquecida
A realidade daqueles que moram na periferia
Que se esforçam pra se virar da esmola da burguesia

A tv não mostra, 
só quando uma família chora
Deixando de fora
Do que nos bairros nobres tem de sobra

Educação, lazer, cultura e condição
Enquanto aqui, se joga bola arrancando a tampa do dedão
O estado só chega aqui com preconceito e arma na mão

Beco, viela, morro, ladeira
A rua cheia, rua estreita
Botecos lotados
Moleques bolados
Crianças brincam, empinam pipa
Vigiados pelos cara da esquina

Esquinas ocupadas, lombadas mal feitas
Anunciam que por aqui tem biqueira
Pronto pra vender 
O que a PM finge não vê
Só vem pra receber

Passa moto toda hora,
Só as nave loca cortando giro
molecada adora
Som estrala do carrão todo equipado
As novinha dança enquanto a carreira é esticada no capo do carro

Influencia desde cedo, o mais perto do luxo
Criança já nasce querendo ir pro fluxo
Na escola não tem aula
Mas pra avião, vaga não falta
Ausência dos pais que foi dar um trampo
A vida do moleque desce pelo barranco
E logo a brincadeira de bombinha 
é explodir banco 
e fugir da polícia

E a criançada, nesse ambiente
Ao lado o cântico da igreja crente
Do outro o funk indecente
Ostentação, contrasta com educação
E o que esperar então 
de uma pessoa ainda em formação
Crescendo tendo isso ao seu redor
Só se espera o pior
Plano de carreira 
é ser gerente da biqueira, 
Mais um barão do pó

Sonhos infantis se desfazendo pelo trafico
Enquanto o estado fica estático, 
O final sempre sera trágico
Guerra entre classes registrada pelas câmeras do circuito interno
Ibope pra quem veste terno
só de ver pm com arma na mão já fica ereto

O destino é incerto
Só precisa ter mais por perto
cultura, lazer, educação
Menos descaso, menos discriminação

Vila clara, buraco do sapo, caixa dágua
Jardim Miriam, joaniza, missionária
Bem diferente dos arredores do Jabaquara e marajoara
Outra realidade que muitos viram a cara

Mas sentem no medo 
Quando é escolhido a dedo
Se faz de indignado e surpreso
Por sentir no bolso ou com a vida
O preço do desprezo
De quem desde cedo
Cresceu com condição
E aprendeu a julgar sem razão
Que bandido bão 
É bandido morto
Só que aqui morre um, nasce outro
E lá quem rouba o povo
ganha seu voto de novo

É tudo uma questão de base
criança pobre não passa de fase
E rico já nasce com password
E se adianta no jogo da vida
e a culpa será sempre da periferia desconhecida
de gente boa, esforçada
honesta, engraçada
que mesmo na pobreza é solidária
reparte o que falta
para que ninguém fique sem nada

Povo alegre, gente humorada 
mais um contraste, gente que ama
com sua cara emburrada
de pessoa mal amada

Aqui é onde na madrugada
se levanta e se ouve "bom dia"
botando o papo em dia
esperando na fila
a lotação que nunca vem vazia

Prazer, periferia!

segunda-feira, 18 de maio de 2015

Acorda povo

Num cotidiano tao corrido
Fica cada vez mais difícil
Você conseguir relaxar dormindo
A insonia é comum
se o amanhã é só mais um

E nas ruas o que se vê é um exercito de panda
Todos com olheiras sonhando com suas camas
Durante o dia, cafeína
A noite a tentativa é a camomila

E nessa o cérebro ferve,
Você se perde,
Vaga de dia como zumbi correndo atrás do $onho
E a noite rola na cama procurando o sono

Mas na verdade, dormem todos
Ao não perceberem que cada dia novo
É o mesmo do outro
Cara feia de sono
Bom dia por obrigação
Mau humor na condução
Esculacho do patrão
Mais um dia de cão
Mais uma noite de insônia e solidão
Ouvindo o zumbido do silêncio
Que tortura mais que a PM no batalhão
O TIC TAC do relógio denuncia
O amanha se aproxima

E você deixa de sonhar dormindo
Pra sonhar acordado
um sonho que não é seu,
Não foi sonhado

Mas movido por aquilo que dizem poder ser seu
Um belo padrão de vida
Alto salario, carro importado
E a liberdade desprovida
Hipertensão, colesterol alto
Enfarto, decepção, mais um soldado

Mas é preciso sonhar
Saber quando acordar
Sonhar com a mente e com o coração
E não com o bolso e com o cartão
Ser mais do que ter
E saber escolher pra qual lado correr

e saber filtrar a informação que chega até você

Um corpo perfeito, um amor de novela
a mais bela e glamorosa festa
fofoca, noticias mentirosas
mascaras que vendem uma vida de novela
num pais onde ainda há pessoas analfabetas

domingo, 17 de maio de 2015

Espelho


Trincos nos espelhos
É o que vejo
Quando tento ver a mim mesmo
Imagens distorcidas
De uma cara desconhecida

Tantos anos de azar
Só tento ver como isso vai acabar
As peças se encaixar
E meu eu a se mostrar

Vidro, vivo
Cacos pelo caminho
Pés cortados, manchas de sangue por onde piso
Vagando liso,
Em busca de um refresco
Do paraíso ou do inferno a que mereço
Enfim, de um espelho
Pra eu ver de qual mundo eu pertenço.

sábado, 16 de maio de 2015

Theatro dos Exclvidos


No teatro da vida
não existe bilheteria
a cultura é restrita
e o pobre só chega até a escadaria

Na rua é outra fita,
o drama no alto do prédio denuncia
o que se vê de graça todo dia
o luxo interno 
constrata com a miséria 
do lado externo
em que aquele homem vivia

No teatro dos excluidos
sobreviver é arte
em pleno centro da cidade
os comédia menospreza
por romance à matéria
não veem o terror da miséria
o drama da fome
o musical do caos que revela
o figurante que na rua dorme
coadjuvante de um cotidiano
cada vez menos humano

sexta-feira, 15 de maio de 2015

O Tempo


O tempo é como um trem
Que passa rasgando os trilhos
E as vezes se arrasta pelo caminho
As vezes você o perde, e fica sem
Mas se tem muito, vem o tédio e você reclama também

O tempo é muito louco
As vezes é muito, as vezes é pouco
As vezes é só desculpa
As vezes realmente tem culpa

Tem dia que 24 horas é pouco
Mas vai dizer isso pra um ansioso
Ou pra quem tem pressa
Cada volta do ponteiro que não se completa, estressa

Mas e quem ta dentro do busão com a mala cheia de saudade?
Indo visitar a coroa que mora noutra cidade
E hoje com uns 30 não vê desde os 18 de idade?
O relógio anda pra trás de ansiedade
E cada km do trem do tempo é uma eternidade

Relativo é o tempo
Passa rápido quando dormimos
Mas no trampo passa lento
O maquinista do trem é nóis memo
Que fazemos nosso próprio tempo

É só mais um padrão
Que temos nos ajustar
Hora pra comer, hora pra acordar
É tudo ilusão, 
Não tem adianto nem atraso
prioridade é o que dita a direção
saber quais trilhos devemos escolher 
Viver é saber chegar na hora certa 
em que se precisa aparecer.

quinta-feira, 14 de maio de 2015

A Estrada

A mente é uma estrada
Toda esburacada
Sem placa
Abandonada

Um milhão de cruzamentos
De idéias, medos
Memorias, sentimentos

Cada desvio já é um desvio
Do desafio de se manter psicoativo
Sob controle em saber o que é estar vivo

Nessas acontecem vários acidentes
Vários por cometer imprudência
Dão PT na própria mente 
ao tentar cortar caminho pelo subconsciente

Cada eu perdido em seu próprio labirinto
Onde o pedágio é caro, vai por mim, não minto
São varias portas, muitos caminhos
Basta apenas descobrir a senha pra sair desta vivo

E nessa estrada vou indo pela contramão
Me sentindo na caverna do dragão
Onde parece que não tem saída deste mundo de ilusão
Onde o mestre de si é o próprio vilão
Auto-Vingador de quem se perdeu na direção
capotando nas curvas de sua própria confusão

terça-feira, 12 de maio de 2015

Rolê no Centro

Não tem jeito, tem coisa que é foda,
não tem como eu ir no centro
e não ficar atento
e ao redor é só revolta
é muito contraste, 
muita desigualdade
uns fazem arte, 
outros fazem maldade

tem quem prega a palavra do senhor
mas também tem quem na pedra alivia sua dor
uns descansam onde dá 
outros não se cansam e vão trabalhar
Uns correm atras do seus afazeres
outros de seus prazeres

E muitos ficam ali parados
apenas compondo o rico cenário
de um capitalismo desenfreado
fachada impecável, calçamento esburacado
chão ocupado por corpos abandonados, desalmados
que pela maioria já foram enterrados.















Tem uns barato que é foda,
não sei mais o que me incomoda
a situação em si, ou quem passa e nem nota
o que se passa a sua volta
olhando apenas para ponta do bico de sua bota
ou para a vitrine da loja
sem saber se pra onde vão, tem volta




Isso me gera revolta
daquelas que a minha alma não suporta
a foto, mostra, choca,
mas mesmo assim não se importam
classificam como arte aquilo que sufoca:
um irmão ali, sem teto, sem parede, sem porta
buscando refúgio, na bíblia que conforta
sabendo que sua alma e dignidade já se foram embora
restou apenas o corpo e a fé que ainda não foi morta



E com sua bíblia na mão
tudo que ainda lhe resta,
ouve ao lado o cuzão 
fazendo a oferta:
"Faça um empréstimo 
para fazer doação"
e enquanto isso, uns vem, outros vão,

Mas um permanecerá por ali
sem crédito na praça, 
fiel e incrédulo
esperando alcançar a graça
pedindo ao seu Deus, 
perdão aos irmãos seus
por serem cegos perante seu povo
e pelo mundo que se perdeu, de novo.

segunda-feira, 11 de maio de 2015

São Paulo

Dia frio, dia cinza
Domingo das mães é muito amor, alegria
No outro dia
Antipatia, desarmonia
Impaciência, mão na buzina
na rua ninguém respeita mais as tia
Cidade nublada, cidade hipocrisia
Tempo feio, neblina
São Paulo, cidade ranzinza
Garoa fina, gente fria
Cidade rouba brisa...

domingo, 10 de maio de 2015

Dia das mães

'Mamãe você é amor,
Mamãe você alegria
Não posso comprar uma dolly
Mas te ofereço poesia'
Hoje vou fugir do clichê
De tudo aquilo que você vai cansar de ler e ver
É promocao, especial na programacao da televisao
Tudo comércio
E na telinha mais um domingo de tedio
Hoje falarei daquilo que hoje eu sei
Ser pai é se transformar em outro ser
Pais...
Ahh...quantos nesse momento frio da madrugada
Estão se desafiando, se matando
Pra levar um kg de feijão pra casa
E garantir o churrasco de acém na laje da quebrada pra mulher amada?
Quantos não choram seco
Engolindo sapo desde cedo
Caindo nessa armadilha
Da matilha que te rouba e nem engatilha?
Preciso comer,
meus filhos precisam comer,
Minha mulher presenteada tem que ser
Vai mostrar na tv,
A vizinha vai ostentar o buquê
E eu? Vou fazer o que?
Ta foda o básico, a casa manter
Mas com tanta influência
Sera que a patroa vai entender?
E pros moleques o que vou dizer
Para que eles possam saber falar
Sem vergonha, segunda feira na redação da escola
Que sua mae nada pôde ganhar
Nem um dolly cola?
Por mais que eu saiba o quanto ela mereça
não tenho como presentear
A pessoa que consegui fazer me amar
Só me resta rezar
Para que um abraço e um beijo,
Faca com que ela esqueça
Do consumismo e suporte a avareza
E entenda de verdade
Que o maior presente é a própria maternidade

sábado, 9 de maio de 2015

O homem

As margens da sociedade
Largados e abandonados pelas calçadas
Os verdadeiros donos da cidade 
Despercebidos, raça ignorada 

Cada um com sua historia pra contar 
Ninguém com tempo e coragem para parar e escutar
O que é um erro,
não se deveria ter medo
De aprender com aqueles que mesmo ignorados,
aprenderam a sobreviver em meio aos ratos

A roupa suja, cabelo ensebado
Mau cheiro exalado do homem barbado
com a pele escura poluída com a fuligem do seu carro,
Mas ainda assim, um homem
Com nome, sobrenome
Que talvez ele mesmo prefira esquecer
Agora ele é só isso, um homem. 

Livre, sobrevivente,
não se importa se tem todos os dentes,
pra patrão não se rende,
come caçando o resto que vê pela frente
que esse outro tipo de gente 
desperdiça, negligência, se silencia, 
finge que não vê,
que não existe.
Mas o homem resiste, 
sem lar, sem padrão, 
um milhão de opção
de caverna nesta selva
pra se fazer de lar,
Sem dinheiro, sem aluguel,
com sofrimento e solidão,
mas ainda assim um homem.
Que sente frio, fome
e nem sempre come,
mas sempre com esperança
e grato por acordar mais um dia vivo 
numa terra onde não é visto
pelos outros de sua mesma raça,
que seguem preso na caça 
justamente daquilo que faz o homem livre,
e assim sobrevive 
no mundão, com um corote, uma bituca 
e um pedaço de papelão,

Junto com seu único companheiro,
o cão que parceiro
também não se perde na busca pelo dinheiro
E se mantem inteiro
Sendo apenas a sua raça,
Assim como ao mundo veio.
Antes um sujo vira lata
Do que um corrupto de gravata.

sexta-feira, 8 de maio de 2015

Dia de pagamento

Na fila do banco, sentado observando
O painel apitando e minha senha nada
Menos mal para dar aquela pensada Naquelas pessoas apressadas, estressadas,
dos dois lados do balcão
Todas com dinheiro na mão,
uns vem, outros vão na casa do milhão.
A cena perfeita do sistema e suas engrenagens,
sem maquiagem.
A tia limpa o chão,
o tio controla o portão.
A caixa passa o dia todo contando dinheiro que ela nunca terá nem sonhando.
O gerente,
dita o seu futuro de acordo com o que você tem no presente.
O cliente, paga a conta, tarifa.
O veinho é preferencial pra receber a aposentadoria,
esmola de quem já deu o sangue pra se humilhar um dia.
O boy, apressado,
conhece todo mundo, e malocado dispensa o malote pra voltar depois pra busca-lo.
Dinheiro vai, dinheiro vem.
O banqueiro milionário e o pobre sem um vintém,
Refém do humor da caixa que te trata com desdem,
ou com toda simpatia se capital vc tem.
O painel apita, nada da minha senha, normal...
a maioria é preferencial,
o que gera mal estar
em quem ali quer logo sair,
sem se esquecer que a velhice logo irá aparecer.
Painel apita, é minha senha...
chegou a minha vez
Serviço realizado,
dinheiro circulado,
Solto na praça,
engrenagem rolando
e o capitalismo adorando.

quinta-feira, 7 de maio de 2015

Povo Contra o Povo

O homem já nasce morto, 
achando que é solto, 
se vê, sem nem ao menos perceber, qual é a verdade, 
indigno refém de sua própria liberdade. 
Sem algemas, sem grades, 
presos amarrados em sonhos que não serão mais realidade, 
abdicados ao ser subordinado, 
povo calado, deixado de lado.

A família cresce, 
o desespero aparece 
e mais uma geração se entorpece
daquilo que se vê todo dia na tv o que acontece:

Bala perdida 
que se acha na cabeça da criança esquecida 
Basta pedir justiça, lotar praças e rua?
Sinto muito, a culpa também é sua.
Responsabilizar apenas o governo é medo 
de assumir os próprios erros, 

Nao fazer a mea culpa e se por no lugar do outro, covardia
não fazer pro amigo o que não quer que faca contigo, empatia. 
Solidariedade, povo unido não só em comício ou em passeata na paulista,
verdade seja dita, 
acreditar que juntos somos fortes é ilusão,
Oportunidade pra vender camisa da seleção. 

A solução irmão, é a força de cada eu, 
que em troca do coletivo se perdeu, enfraqueceu. 
Azar o seu, amarga o próprio veneno 
e nem sequer ta vendo 
que o jogo é perigoso, 
na batalha do povo contra o povo, 
não tem ninguém vencendo
O triste premio é assistir a própria gente morrendo.

quarta-feira, 6 de maio de 2015

Aceitamos doações

Hoje só falam mal da mulecada
Redução da maioridade penal ta na bancada
E na boca de quem só vê a realidade que é televisionada
E com o filho na escola particular matriculada
Nos empurram o menorcídio como necessidade
como se a culpa fosse do menor
Nós vivermos atrás das grades
A educação segue abandonada, largada,
ninguém liga mais pra ela,
roubaram tanto dela
que hoje ela não vale mais nada
Professor antigamente era respeitado,
Inspiração de brincadeira de criança
Que nos enchia de esperança
Mas hoje não é mais não,
Coitado,
Sofre passando lição,
exercendo a profissão
E quando recorre aos seus direitos em forma de manifestação,
apanha da PM como se fosse ladrão
E hoje estamos assim, roubando da escola pra construir prisão.
Socorro, chamem o exército da salvação,
A educação está aceitando doação!