segunda-feira, 11 de julho de 2016

Nada muda

Desde quando poeta comecei a ser
Não vejo o país se desenvolver
São sempre os mesmos motivos pra escrever
País estagnado só você que não quer ver

É racismo, homofobia, corrupção
Sobrando pro povo só desilusão
Que gasta sua saúde na neo escravidão
80 horas semanais é bater ponto no caixão

Porque é difícil sobreviver a essa exploração
Recebendo como salario a depressão
A mercê de uma saúde publica sem condição
de tratar e curar o cidadão

Que sem educação de qualidade
Cai fácil na manipulação
Sendo usado e maltratado
Pelas maquinas do Estado

E eu me pergunto:
O que estamos fazendo de errado?
Se o tempo passa e continuamos parados

Acostumados
Acomodados
Amordaçados

Entra presidente, sai presidente
E nada de ir pra frente
Trocam-se as siglas, os partidos
E o resultado é um povo cada vez mais dividido

Parcelando sonhos, se afundando em dividas
Cuspindo pra cima no prato que comia

E o país a deriva
Enterrando suas vitimas
Nas valas da periferia

Que sofre com a sangria
Pagando com a vida
Sendo alvo da polícia

Servindo a burguesia
Que apóia a patifaria
De um Estado genocida

Mas há de se chegar o dia
Em que a maioria irá pra cima
De quem financia essa covardia

Aí vão implorar por paz
Quem antes com violência agia
Acuados atrás de muros e grades
Reféns do próprio ódio que cultiva

sexta-feira, 8 de julho de 2016

Moleque Problema

E ai madame, sou moleque problema
Daqueles que você não enfrenta
Vira a cara, finge que não vê
Até a minha fome um dia encontrar você

Aí um de nós vai ter que perder...

O sistema me criou, me recrutou
Tirou minha infância e me condenou
A ser mais um menor infrator

Meus pais? Nem sei mais...
O sistema também os levou

Fica fria, não esquente...
Senão, descarrego o pente
Dessa vida já sou descrente
Então, passa logo o relógio, a corrente...

O meu fim não poderia ser outro
Cresci pra acumular chumbo e não ouro
Pro cuzão sensacionalista foi pouco:
Bandido bom é bandido morto

Eu? Só queria amor e proteção
Com direito a saúde e a educação
Assim como rege a constituição

Quem sabe numa outra reencarnação
Quem sabe?
Eu volte pra ser herói e não vilão?

segunda-feira, 27 de junho de 2016

É só veneno

É fácil ver o que fazem com os nossos
É o sistema fortalecendo seus negócios

Desde cedo somos doutrinados
Manipulados e incentivados
A vivermos como escravos
De regras e leis que nos deixam acorrentados

Educação publica forma operários
a particular forma empresários

Nos matam aos poucos com produtos industrializados
Baratos e envenenados
Porque o saudável é mais caro
Não há coerência em comer bem
Onde o córrego não é canalizado

A maior oferta de vagas é braçal,
Pra sustentar a base da piramide social
O que sobra é pro administrativo
Pra te recrutar pro mundo corporativo
Onde todo mundo sonha fazer administração de empresa
Mas se perde nos litrão em noite de sexta-feira

É foda! Veja!

Tudo é pensado pra que você seja moldado
Padrão de beleza que agrada ao mercado
Coitado de quem não é enquadrado
No biotipo desejado:
Esbelto, claro e magro

Ser sucedido é ser um mano alienado
Preocupado com centavos

Pros seus filhos, sempre cansado
Para a esposa, muito ocupado

Se dedicando ao trabalho
Pra pagar prestação de carro...

Pára, tá tudo errado!

A felicidade mora pro outro lado
Na simplicidade de mais um soldado
de coração aberto
Pois o mundo necessita de mais afeto

Meu sonho é estar sempre por perto
Daqueles que correm pelo certo

Já o sistema é esperto
Faz parecer tudo tão complexo
Pra vender facilidades pra quem ainda tem crédito

Eu sigo meio cético
Não caio na armadilha
Disparo com poesia
Em quem rouba minha brisa

A igreja catequiza
Te ilude, hipnotiza

Rouba sua fé, seu livre arbítrio e seu dinheiro
Os fiéis sofrendo
E os pastor tudo de rabo cheio

Me aperreio...
fico cabreiro...
Tem pit stop da Skol pelo bairro inteiro

É só veneno!

E vocês fingem que não tão vendo
Apologia ao álcool do samba ao sertanejo
Machismo e cultura do estupro o tempo inteiro
E só quem leva a culpa é o funkeiro

Ah..eu tô de saco cheio!

País sem governo
Tanto faz também, só tem corrupto mesmo...
Enquanto eles se delatam
Meu povo segue no desespero

Periferia, SP, é desse jeito:
O emissário da morte passa por aqui primeiro

domingo, 12 de junho de 2016

De rolê

Com a certeza de que ninguém vai sair
E que ninguém mais vai chegar
Ele sai...
Vai procurar sua paz

Sob luzes amarelas
Vai desbravando a quebra
As ruas, as travessas
Aos vira-latas, observa:
Cada cão do seu jeito se preserva

As ruas vazias, o comércio fechado
Andando só sob postes apagados
A neblina cagueta os raios entre os galhos

A lua sorri lá do alto
Pena que são poucos que entendem o recado
Pra ele, cada passo é aprendizado

Ele olha pro céu:
Lá, as estrelas...
Aqui embaixo ele,
desejando tê-las

Por um momento se encheu de certezas
O mundo doente ainda preserva suas belezas

Dos dias de calor, das madrugadas frias
Dos fracassos da luta contra a melancolia

O vazio da noite o convida
A ser quem quer na vida
O silencio que lhe falta no dia
Faz com que se inspire e reflita

Calmo, ele caminha
O sereno é a sua companhia
É sozinho que se entra em sintonia:
Trampo, casa, rotina...

Deixa pra lá,
Ninguém vai roubar a sua brisa

Nessas horas, maluco pensa em varias fitas:
na filha, na esposa, na família...
Nos novos amigos, frutos da poesia
E quando um sorriso lhe escapa,
É que já ganhou o dia

No deserto das ruas o frio predomina
Na calada todos os ratos são cinzas
Mais uma noite que termina
Mais um dia de provação que se aproxima
Hora de voltar, preencher a cama vazia

A cada fuga, um alivio imediato
Da vida um retrato,
Um relato de quem sobrevive no ambiente errado
Mas por ora, volta relaxado

O portão antes barulhento fora lubrificado
Durante o dia, deixou tudo preparado
Ele chega no sapato
Sem ser notado

Amanhã já acordará cansado
Sufocado sem espaço

Apenas esperando escurecer
Por mais alguns minutos de prazer
Que só a solidão da noite pode oferecer

sexta-feira, 10 de junho de 2016

Ninguem quer chegar por ultimo

Quando penso no alivio de um momento
de um novo caminho...
De uma nova avenida que se cria
Penso também quantas dali foram tiradas as vidas
Empurrados da periferia para alem da periferia,
Pra margem da margem...
Com a passagem só de ida
Mobilidade às custas de moradia

Em troca de um alívio no trânsito
Pra mais longe os mandamos
E nas beiras vamos os isolando
O acesso dificultando
com o transporte que tá faltando

Descasos mundanos,
refugiados urbanos,
Aqueles humanos que nós abandonamos
São vitimas do avanço
das consequências que causamos

Quanto mais o centro expande
Maior a área de tensão
Periferia segue adiante
Com versos na contenção
Poesia que arrepia
mas também denuncia

Menor metendo o cano
Nas tia no ponto que estão esperando
O busão pra ir pro trampo
Sistema cão, cada um correndo por um Adianto
A violência nem causa mais espanto
A sociedade só se comove quando o cadáver é branco
Se for rico, é mó escândalo

Na pista: trânsito parado
Nos carros: seres isolados
No busão lotado
Quem ta sentado
Ta olhando pra baixo, conectado

Será que não percebe o Estado
Que a cada ônibus articulado
Com serviço no mínimo agradável
É menos uns 50 carros ocupando espaço?

É uma viagem, cada um na sua velocidade
Indo pra cada canto da cidade
Uns tão indo mais pro sul,
Outros vão meio que pro oeste.
Vários tão vindo da norte destino leste

As motos passam a milhão
Muitas vão até na contramão
Acho isso tão arriscado, irmão...

O que fazemos em troca de uns minutos?
Arriscamos perder toda uma vida por uma fração de segundo
É que ninguém quer ficar por último
E são os primeiros a chegar no túmulo
Vencer é manter-se vivo nesse mundo

quinta-feira, 2 de junho de 2016

Novos Caminhos

Mais um dia tipico de São Paulo:
Céu nublado, fechado
Mais um dia ranzinza da cidade cinza
Não dá mais pra saber se é melhor morrer só
ou em má companhia
Afinal, quem é santo hoje em dia?

As lagrimas dos anjos mortos escorrem pelo parabrisa
Mas também não é novidade
Pra um dia que eu já falei que tava cinza
Mas, dá nada...
É bom que o ar, limpa
É tanta poeira que se vê nessa vida
E agora, justo aos trinta
Talvez seja a minha última saída
Melhor tomar cuidado:
há animais na pista
De longe sinto a carniça

Do Angela partem vários itinerários
Eu só quero chegar naquele que fui encaminhado

Sinal verde, acelera
Sinal amarelo é cautela
Vermelho nem vai, é poucas idéia

O destino pode até ser um só:
Aquele que todo mundo já sabe
Mas cada um tem a hora certa pra chegar e nem sabe
Quando perceber, já era, já é tarde

Então...
Segue a via, segue o caminho
Até porque eu sei:
Não estou sozinho
Eu vou direto,
não quero cortar caminho

sábado, 28 de maio de 2016

Um novo mundo

É nessas horas
Em que o mal mostra a sua mais perversa cara e nos assola
É que me sinto como um anjo...

Não puro de bondade
Afinal, não sou nenhum santo
Mas com a missão de formar humanos de verdade

Não que nossos pais sejam culpados
É que eles tinham outras necessidades:
Livrar-se da fome, das dificuldades...
Buscar um conforto para nós
Que eles não tiveram na nossa idade

Só que nisso, os valores morais ficaram de lado
Empurrados pela barriga ideais ultrapassados
Machismo, preconceitos que por nós foram herdados
E taí o resultado:
Violências que a cada dia nos deixam mais chocados
Seres perversos caminhando ao nosso lado

É nessas horas em que a alma chora
Que a depressão bate e a vontade de viver vai embora...
Porque é foda viver com todo esse mal rondando lá fora

O apocalipse está acontecendo
A humanidade se perdendo
As pessoas sofrendo

O ódio e a maldade são os meteoros de nossa extinção
O mundo já acabou, já era...
Da culpa, todos nós temos uma parcela

Mas ao ver aos meus indignados
Jovens estudantes engajados
Mulheres de punhos cerrados
Pais jovens preocupados
Crianças crescendo com novas visões, novos aprendizados
Me sinto esperançado...

Vislumbro um novo mundo sendo criado
Com novos conceitos e novos formatos

A nossa geração está condenada
Mas não podemos assistir o fim e não fazer nada
É nosso dever como adultos
Preparar o futuro
Daqueles que salvarão o mundo

Filhos de LGBT, das feministas,
Dos estudantes secundaristas
De uma nova geração de artistas,
Dos ativistas...
Filhos das lutas, de uma nova classe política

Somos nós, pais,
O instrumento de criação de um novo mundo
Bem mais fácil de se conviver
Entre diferenças e sem luta pelo poder
A não ser pelo poder
De viver sem sofrer

E que 33 volte a lembrar só uma idade
E não a uma terrível crueldade