quarta-feira, 18 de maio de 2016

No contrafluxo

Não é normal e nem quero achar que é
Ver espécie da mesma raça
Ignorados,
jogados
espalhados
na praça da sé

Enquanto uns acham graça
É só desgraça
Fome e frio que passa
Você olha só de relance
e com receio vira o rosto e disfarça
No fundo cê num guenta que são farinhas da mesma massa

Então não é...
e nem quero que seja
Normal uns passarem fome
e outros torrando tudo em droga e cerveja

Veja!
Perceba!
Abra sua cabeça!
Veja alem e reconheça!

Olhe ao seu redor...
Você não vê toda essa indiferença?
Achar que é normal criança brincar com boneca sem cabeça?

Não é normal, eu não acho...
Ver pai de familia contando moedinha na fila do supermercado
E muita coisa vai ter que deixar, não vai levar
A mistura da janta vai faltar
Seus filhos vão chorar
A barriga vai roncar
Mas ate com a sacolinha o mercado vai lucrar

Aí não dá!
O povo degradado
sofrendo igual diabo
no busão lotado
recebendo um misero salário
pra só levar esculacho
De gambé forgado
E de patrão mal educado
Que chega atrasado mesmo de carro importado
Tá tudo errado!

E de tão errado passou a ser o certo
Aceitamos nossa degradação em troca de dinheiro e crédito
A pátria educadora sem cultura parece piada, mas é sério

De tanto contarem a mentira
De que desigualdade é normal
A empatia deixou de ser real
E o bem coletivo se transformou em status individual

Então como pode ser normal?
Me explica ai, na moral
O descaso com o seu igual?

Não, não, não, não...

Não me leve a mal
Não quero ser normal
Me chame do que você quiser:

Vagabundo, marginal
Diferente, doente mental

Enquanto eu tiver no contra-fluxo
Sei que ainda sou racional

E não só mais um animal
Que manipulado segue disseminando o mal

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