não tem como eu ir no centro
e não ficar atento
e ao redor é só revolta
é muito contraste,
muita desigualdade
uns fazem arte,
outros fazem maldade
tem quem prega a palavra do senhor
mas também tem quem na pedra alivia sua dor
uns descansam onde dá
outros não se cansam e vão trabalhar
Uns correm atras do seus afazeres
outros de seus prazeres
E muitos ficam ali parados
apenas compondo o rico cenário
de um capitalismo desenfreado
fachada impecável, calçamento esburacado
chão ocupado por corpos abandonados, desalmados
que pela maioria já foram enterrados.
Tem uns barato que é foda,
não sei mais o que me incomoda
a situação em si, ou quem passa e nem nota
o que se passa a sua volta
olhando apenas para ponta do bico de sua bota
ou para a vitrine da loja
sem saber se pra onde vão, tem volta
Isso me gera revolta
daquelas que a minha alma não suporta
a foto, mostra, choca,
mas mesmo assim não se importam
classificam como arte aquilo que sufoca:
um irmão ali, sem teto, sem parede, sem porta
buscando refúgio, na bíblia que conforta
sabendo que sua alma e dignidade já se foram embora
restou apenas o corpo e a fé que ainda não foi morta
E com sua bíblia na mão
tudo que ainda lhe resta,
ouve ao lado o cuzão
fazendo a oferta:
"Faça um empréstimo
para fazer doação"
e enquanto isso, uns vem, outros vão,
Mas um permanecerá por ali
sem crédito na praça,
fiel e incrédulo
esperando alcançar a graça
pedindo ao seu Deus,
perdão aos irmãos seus
por serem cegos perante seu povo
e pelo mundo que se perdeu, de novo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário