segunda-feira, 4 de maio de 2015

Sonho de Criança

Arthur, 6 anos de idade, branco
Sempre teve de tudo
Ao contrário de Leandro
Que tinha a mesma idade,
Mas ja nasceu fadado a ser sem futuro
Simplesmente porque não nasceu branco,
Um tom mais escuro

Arthur tirava notas boas, 
tinha convenio e escola particular
Leandro, ficava tao doente 
que mal dava tempo pra estudar.

Arthur tinha lar, 
Leandro, um esgoto a respirar
Única coisa que os unia
Era ser policial um dia
Sonho de criança,
Usar aquela farda era respeito e segurança

Os moleques foram crescendo,
Aos 8, com os dentes ainda crescendo
As oportunidades aparecendo:
Aula de inglês pra um, 
pro outro, entrar pro movimento.

Anos se passaram
E ambos, cada qual em seu ambiente,
Se moldaram de forma diferente
Um continuava com tudo,
O outro ainda era carente

Arthur se aperfeiçoou,
Concluiu os estudos, viajou...
Leandro, cada dia sobrevivia
Do gueto já era cria
Com anticorpos contra os males da periferia

Mas mesmo com toda a diferença, 
algo ainda os unia
O sonhos dos dois seguia vivo, não morria
Mas algo mudou e os motivos já nao eram mais iguais 
àqueles de tempos atrás.

Arthur se formou em direito, 
e logo delegado se tornou
Leandro fez de tudo e se virou,
Fez supletivo
Recuperou o tempo perdido
da infância onde havia nascido
E mudou seu curso
prestou concurso
Entre os primeiros passou
E pra corporação entrou,
Um delegado, outro soldado
sonho realizado.

Inicio de uma bela historia se anunciava
um que continuou no topo e seguiu carreira 
e outro que mesma na lama conseguiu escapar da carreira

Mas algo deu errado 
e um deles logo mudou de lado.
a farda não mais representava Respeito e segurança
Agora ele tinha distintivo que permitia a matança
Como pode? Sonho de criança realizado
Passou por tudo pra no fim virar safado

Corrupto, traidor do povo que espera sua proteção,
Mas no meio de uma prisão,
Um acordo, uma nova oportunidade
E logo apoio mutuo da marginalidade
Em troca de favores, 
virou as costas pra comunidade.

Até que um dia, perseguição
ao vivo pelo helicóptero da televisão
Não vai ter margem pra encenação
Não da pra escancarar a omissão
Então vamos pra ação
Depois abrimos nova negociação
E corpos vão pro chão
Baixa dos dois lados
E hoje morre com um tiro no peito
Mais um PM preto
Sobrevivente da miséria e do preconceito
homem honrado, sempre respeitado
Daqueles PM que cumprimenta, educado
Servidor e protetor
Por saber que o povo é sofredor

Ja arthur hoje, cada dia mais safado, 
mais um deputado comprado,
pedindo voto na favela 
onde até hoje Leandro é lembrado.

Oportunidades, é melhor cria-las
Do que aproveita-las
O inimigo se camufla
Filtre o que lhe oferecem e não caia na falcatrua
Senão é só mais um sonho de criança assassinado pela ganância.

(Se você pensou que o final seria diferente,
o sofredor, independente da cor, também é gente, e decente)

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